sábado, 14 de fevereiro de 2009

Belíssimo poema do Nei Duclós

CARTA AO AMIGO

Embora não acredites
estou tão habitado
que pareço um mar

Não só pelos peixes que possuo
das mais variadas espécies
não só pelas aves que me sobrevoam

Mas também pelas ilhas de corais
pelos arrecifes, pelos icebergs que em silêncio
navegam seus volumes submersos

E principalmente
pela quantidade de rios
que deságuam em mim

Estás longe
e lembrei teus olhos
cheios de medo e desconfiança
Hoje está chovendo

Quando chover
sei que vais sentar um pouco
reler teus manuscritos do tempo do colégio
e tentar fazer coisa nova
ou pior, sonhar com eles
até que um vazio incômodo
te derrube por terra

Quando chover, em vez de chorar
lembra de mim
que não cedi um palmo

Um comentário:

Nei Duclós disse...

Gilia: este poema foi escrito em 1969. Está fazendo, portanto, 40 anos! Que bela homenagem a ele, feita aqui por ti, no teu blog! Significa muito para mim. Garante a longevidade daquela poesia exposta na praca e que cruza o tempo sem ser esquecida. Obrigado! Longa vida à poesia!